ARTISTAS E HQS

Wednesday, January 17, 2007

EMIR RIBEIRO : UM QUADRINISTA QUE INCOMODA


Sei que depois de expor minha opinião, vou arranjar inimigos.
Vão me alvejar pela net afora.
Mas, eu não ligo.
É minha opinião, e pronto.

O que não é possível é se estabelecer essa caça às bruxas e censura para quem não se deixa influenciar pelos apelos mercadológicos do “mercado” de quadrinhos.
O vigente é: quem não seguir a padronização do “mercado” se transforma numa pessoa maldita e alvo preferido dos zumbis.
É o caso do quadrinista Emir Ribeiro, um dos poucos a produzir material autoral e diferenciado do “metiê” de sempre.
Emir é chegado numa aventura á lá super-heróis. No entanto, não quis obedecer a cartilha do “Comics Code”.
Mesmo tendo criado personagens que se iniciaram como super-heróis, hoje ele os puxa cada vez mais para longe desse tema tão batido, e lhes conferindo uma gostosa brasilidade.

O gÊnero super-herói, em si, não é de todo ruim, mas apenas bastante recorrente entre os artistas brasileiros. Há coisas muito boas produzidas nesse estilo. Porém, os recentes materiais não estão agradando.
Quando a Marvel estreou nos anos 60, suas criações eram bem distintas umas das outras, tendo seu próprio universo, seu próprio estilo, e primando por uma personalidade individual. Com isso, abria-se um grande leque de possibilidades.
Mas, foi decorrendo o tempo e a massificação começou a tomar conta deles.
Atualmente, todos são exatamente a mesma coisa.
Nada de novo novo apresentam, e história alguma surpreende.
Por isso mesmo, lá na terra do Tio Sam, as vendas estão num declínio nunca visto.
E os editores continuam na mesma padronização burra, obedecendo às mesmas regras de décadas passadas.

No Brasil, muitos artistas afundam no mesmo erro.
São tão cabeças-duras quanto os editores americanos.
Tratam de copiar a mesma fórmula que trouxe essa estagnação e a rejeição do público leitor.
Qualquer com um pouquinho de discernimento percebe que não é interessante replicar esse modelo falido, e replicar o mesmíssimo protocolo “Marvel way”.
Esquecem ou ignoram que é fundamental encontrar uma narrativa diferenciada o suficiente para trazer personalidade artística ao trabalho. Do contrário, será apenas mais um copiador bobo.
Emir Ribeiro é um a buscar esse diferencial. Entretanto, não obstante sua inquietação por apresentar um trabalho afastado do “Marvel way”, mesmo nos seus primeiros tempos de publicação, SEMPRE teve um toque de personalidade, mesmo quando usava unicamente a intuição, na saudosa década de 70, quando a maioria dos seus personagens foi concebida.

Entretanto, ao entrar para o padronizado mercado americano, começou a apresentar um desenho mais técnico, e pegou alguns vícios dos gringos, especialmente no tocante aos desenhos e a narrativa visual.
Embora a experiência de exportar sua arte tenha lhe feito ganhar qualidade técnica, os desenhos de Emir se aproximaram mais do padrão estrangeiro.
Mas entendo que voltar atrás atualmente é bastante difícil, e provavelmente impossível.

Contam que o pintor Pablo Picasso teria dito que passou metade da vida aprendendo a pintar como Rafael, e depois, passou a outra metade para “redescobrir como pintar igual a uma criança”.

A despeito dessas ponderações quanto às influências, vejo que o trabalho de Emir Ribeiro, em relação à narrativa textual, ainda mantém um certo viço de novidade.
É o tipo de toque personalíssimo que sua Velta SEMPRE TEVE.
Um trabalho eminentemente autoral, que se rebela contra a ditadura do “mercado” e causa grande interesse em quem não o lê com os olhos bitolados pelas preceitos obrigatórios dos “comics”.
É exatamente o que parece desagradar violentamente os “críticos” do quadrinista.
O fato dele haver conseguido quebrar a padronização e apresentar um trabalho diferenciado e pessoal incomoda muita gente, em especial esses das mentes danificadas pela programação subliminar americana.

Pode ir atrás e constatar: os que dizem “amém” a todo aquele amontoado de regras bobas vindas lá dos E.U.A. são os maiores e mais furiosos críticos à Velta e às outras crias de Emir.

E o que mais chateia é ver essa mesma súcia sair espalhando a mesma argumentação estúpida, os mesmos embustes, o mesmo ranço de colonialismo e bitolação, em diversos pontos da Internet.
Se vamos no orkut, lá estão eles, sempre tentando denegrir a imagem e o trabalho do artista.
Se é nos fotologs e blogs, fazem questão de abri-los ou encher comentários somente para mexericar contra o paraibano.
E já houve casos piores de gente que gastou dinheiro em fanzines e livros com a mesma e nefanda finalidade.
Chega a parecer que existe mesmo uma espécie de levante bem orquestrado contra o Emir.
Isso porque penso que nada justifica essa insistente, irritante e idiota imprecação pública contra uma pessoa que apenas quer mostrar sua arte.

Pior é saber da existência de outros quadrinistas nesse meio, e até editores de revistas, revelando a total falta de maturidade e identidade artística desses fulanos que desprezam a personalidade artística e acreditam unicamente numa ditadura do mercado, a qual determina o que um artista TEM que fazer.

Porém, como reza a lei da física, onde toda ação tem uma reação contrária e de igual força, as idiotices desse grupo de bestalhões finda por gerar um outro grupo antagônico, sendo este defensor do Emir Ribeiro.

Fui um dos que se revoltou com essa palhaçada.

Nunca pensei em abrir qualquer site ou blog para falar sobre quadrinista algum, nacional ou estrangeiro, pois apenas leio os gibis, gosto, e finda aí minha participação.
Mas, a obstinação torpe dessa gentalha me enraiveceu, e só a fim de afrontar sua burrice sem par, escrevi tudo isto aqui.

Capitão Caravela